sexta-feira, dezembro 08, 2006

Crônica da Sexta!!

Parece que o lance agora é postar de sexta! Afinal de contas não ando tendo tempo nem de ir fazer cocô direito...(cacete!!!)

Então, como já criei coragem de mostrar uma de minhas crônicas - leiam abaixo e verão que a anterior é de ningúem menos que Luiz Fernando Veríssimo - lá vai...
Espero que gostem. Se não gostarem, já sabem! Passem amanhã! (LOL)

E é aquela velha história: Se gostou, indique pros amigos, se não gostou, indique pros inimigos e dane-se!!! hehehehehe!

Agora, Ladies and Gentlemen ....

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Mendigo

Lúcio acordou com os cutucões de uma bota grande e prateada na sua cabeça. Era madrugada de um inverno frio e rigoroso como há muito não se via na cidade. A meteorologia tinha previsto que seria a mais fria do ano, podendo chegar a zero grau. Mas Lúcio não sabia nada disso. Sua experiência como morador de rua só lhe dizia que ia fazer muito frio e, ele já tinha tomado suas providências, conseguindo cobertores extras dias antes, com essas pessoas que ajudam quem dorme nas ruas. Tinha feito uma pequena fogueira também, que agora estava quase apagada, para esquentar as primeiras horas de sono. Mas, na opinião dele, o mais importante é que ele tinha comprado uma garrafa de vinho barato num bar próximo, graças aos trocados que havia ganho durante o dia, esmolando de passantes. O litro vazio jazia jogado ao lado da fogueira semi-morta e Lúcio dormia a sono solto. E então foi acordado.

Ainda embriagado pelo vinho barato e muito enrolado nos cobertores, teve dificuldades para entender o que estava acontecendo. Sonolento, resmungou algo, falou uns palavrões e abriu os olhos. Só viu aquela bota. Prateada e enorme. Quando conseguiu olhar direito, viu que eram duas. Ou melhor, quatro. Duas pessoas, com botas prateadas, estavam ali, às três da manhã, acordando Lúcio o mendigo.

Lúcio então tirou a cabeça para fora dos cobertores e forçando a visão e a cabeça, viu que uma das pessoas que o acordara tinha se abaixado e agora, com um joelho no chão e outro servindo de apoio para o braço, sorria e o encarava.

- Mas que porra! Quem é o viado que me acordando a essa hora?

- Lúcio?

- Quem é você caraio? – Lúcio falava com a voz ainda empastada pela embriaguez.

- Lúcio, nós viemos lhe buscar.

- Buscá...prá levá prá onde? Eu num prá albergue porra nenhuma!...Moro na rua e pronto!

- Lúcio, acorde! Você vem com a gente ou não?

Lúcio então perdeu a paciência. Descobriu-se todo, deixando exalar o péssimo cheiro que evidenciava a falta de banho há vários dias. O sujeito que estava com o joelho no chão se levantou. Entre apressado e irritado por ter sido acordado daquela forma, pôs-se sentado rapidamente e calçou as botas rotas e furadas, que guardava embaixo do monte de trapos que lhe servia de travesseiro.

Ensaiou levantar-se, mas o seu estado etílico não permitiu. Conseguiu apenas ficar de quatro, agitando-se e ameaçando verbalmente os dois sujeitos e cachoalhando a cabeça de modo estranho.

Quando finalmente conseguiu ficar em pé, arregalou os olhos embaçados pelo sono e pelo vinho. Os dois sujeitos deviam ter uns dois metros de altura. Ou mais. Ambos tinham a roupa – uma espécie de túnica - prateada, como a bota, cabelos loiros e compridos, na altura dos ombros, a pele muito branca e brilhante e olhos azuis e profundos. Lúcio pensou que aquilo devia ser um sonho (não que sua embriaguez estivesse permitindo que ele pensasse com muita clareza), que estava tenho algum delírio ou algo semelhante. Apoiado no muro atrás de si, só conseguiu balbuciar: “Minha Mãezinha do céu!”

Ninguém mais viu Lúcio. Seus companheiros de rua e até pessoas que o ajudavam, perguntaram vários dias por ele. Ninguém sabia de nada. Ninguém viu nada. Ninguém ouviu nada. Dias depois, alguém começou a espalhar a notícia que Lúcio tinha morrido. Leonardo, o filho de oito anos da Dona Noquinha que morava em frente, às vezes levantava de noite para fazer suas necessidades. Naquela madrugada, a caminho do banheiro, viu duas pessoas muito altas e vestidas de prateado pela janela da sala. Parou para observar melhor e viu o mendigo Lúcio falando com eles. Depois eles sumiram dentro de uma luz muito branca. O menino contou para a mãe que tinha visto dois anjos falando com o mendigo. Sua imaginação infantil viu até asas inexistentes nos dois sujeitos. A mãe disse que era sonho, bobagem, que não se preocupasse com nada daquilo. Afinal, Lúcio era só um mendigo.

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